O Natal do Coração

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Confesso que não sou fã número 1 de Natal, prefiro as celebrações de ano novo. Nada contra o aniversariante Jesus, tão humilde, sábio e mal compreendido. Sua vinda ao mundo certamente trouxe muita luz e ensinamentos preciosos. Apesar de muito se falar em Cristo, vemos poucos praticantes verdadeiros. Muitas pessoas clamam ter fé em Deus e Jesus, porém não parecem se comportar de acordo, vivem uma ilusão de que podem ser violentos e gananciosos em nome de Deus e que está tudo bem, tudo será perdoado na hora da morte. Cá tenho minhas dúvidas, mas quem sou eu na fila do pão, não é mesmo? 

Estou me colocando aqui como mera observadora dos modos e costumes da vida moderna. Vejo as propagandas que se multiplicam e tentam empurrar goela abaixo os perus, tender e banquetes com familiares felizes em volta de uma mesa farta e muitos presentes debaixo das árvores de Natal iluminadas, todos rindo, se abraçando e vivendo em plena abundância. Talvez o cinismo já tenha me dominado, mas não consigo encontrar um paralelo com a realidade, parece mesmo uma cena de filme de sessão da tarde, daqueles que a gente assiste quando não está a fim de pensar em nada, simplesmente se deixar levar pela narrativa e ficção. Mesmo porque uma grande parcela da nossa população vai ficar feliz se conseguir comprar um franguinho, com os preços das carnes acho que mais que isso vai ser impossível…

Tudo bem pra quem encontra isso na vida real. Acho mesmo que após dois anos de pandemia, as pessoas estão ávidas para celebrar e festejar. Porém, gostaria de saber como serão os diálogos (se é que isso será possível) com os que pretendem votar em 2022 no mesmo traste que ocupa a presidência – o abismo entre as pessoas que acreditam na ciência e compreendem a profundidade do buraco que estamos e os que continuam insistindo na continuidade deste governo corrupto, irresponsável e completamente fora dos padrões cristãos em todos os níveis. Sem falar nos anti-vacinas, que estão por aí disseminando sua ignorância e contribuindo para o desenvolvimento de novas cepas do vírus em todo mundo. Vai ser um desafio e tanto manter a harmonia…

Gostaria muito de ver a cara de Jesus se nos visitasse de surpresa e visse o preço cobrado pelas bênçãos em seu nome nas comunidades religiosas materialistas. Seria um escândalo – com certeza, Jesus, com seu temperamento revolucionário, sairia chutando tudo pelo caminho e expulsando dos templos os seres gananciosos e inescrupulosos que se reúnem em nome de Deus para explorar a religião em favor próprio, seria uma vergonha sem tamanho.

Que bom seria se pudéssemos celebrar a chegada desta criança divina em nossos corações e nossa generosidade, compaixão e tolerância aumentassem neste período de festividades, que a luz e o amor ao próximo pudessem guiar nossas ações, honrando a chegada desse ser espiritual em nossa vida. Se, ao invés de nos preocuparmos em encher nossos filhos e companheiros com mais e mais coisas materiais, pudéssemos inspirá-los a praticar a generosidade e o desapego, que dividíssemos nosso banquete com as famílias que estão passando por necessidades, não apenas para postar nas redes sociais como um modo de se auto promover e sim como um exercício de prática espiritual contínua, silenciosamente e sem alarde. Isso sim, seria um exemplo de espírito natalino. 

Entretanto, acho que estou pedindo demais, somos muito mesquinhos e fúteis para isso, preferimos nos endividar até a Páscoa para mostrar aos outros o quanto temos e continuarmos este ciclo mentiroso de vida de aparência. 

É uma pena. Enquanto isso, o número de pessoas deprimidas, ansiosas e sem motivação para viver só aumenta. O preço pago por uma vida onde se vive um personagem é ter que manter colada a máscara que oculta os sentimentos de frustração, angústia e solidão. Viver uma vida autêntica, simples e baseada em valores como generosidade, aceitação e desapego pode não estar na moda, pode soar simplório e indesejado, não é glamuroso e nem rende tantas curtidas no instagram, mas garante um brilho nos olhos, uma paz no coração e tranquilidade para enfrentar os desafios da vida. Se isso não for motivo suficiente para escolher aquilo que é realmente necessário ao invés de tentar encher o poço sem fundo que representa nossos desejos, então seu caminho será repleto de decepção e insatisfação constantes, pois como diria o filósofo Sêneca: “⁠Quem vive conforme as leis da natureza, nunca será pobre; aquele que vive segundo as opiniões alheias, nunca será rico.” Não podemos mudar o começo de nossa história, mas ainda há tempo para mudar o final. Por isso, reflita e faça melhores escolhas em sua vida, mude o rumo de sua existência para melhor!

Meu desejo é que neste Natal a verdadeira celebração seja em seu coração; nada de exageros, comilança, bebedeira e entorpecimento, celebre a vida, os amigos e a família sem precisar gastar o que não tem, para mostrar aos que não se importam uma felicidade que não existe. Que a luz de Cristo ilumine seu coração e mente, que ela irradie em sua vida muito amor, gratidão e contentamento!

Feliz Natal!

Regina Proença

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