Inocência, Conveniência e Intuição

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Estive refletindo sobre o perigo de fazer escolhas sem o necessário tempo de amadurecimento das idéias. Tenho visto tantas pessoas que entram em situações de trabalho onde são colocadas à prova em suas habilidades, talento e capacidade que chegam a ficar exauridas pelo esforço contínuo em tentar provar sua competência em empregos que as exploram e extraem tudo que há de bom e vital para uma pessoa ser saudável. Às vezes são levados pela oferta de um bom salário, por ser uma empresa conhecida na cidade, porque estamos buscando um jeito de viver sem uma conta negativa no banco ou sem poder usufruir das inúmeras possibilidades de um estilo de vida consumista. Pensamos ”Com mais dinheiro vou ser mais feliz, vou ter condições de viajar e comprar as coisas que desejo e ainda vou poder guardar um pouco para as emergências”. Sim, na teoria, isso funciona muito bem mas somos inocentes em não perceber que estamos entrando em uma armadilha. Como diz o ditado “a porta de entrada do inferno é larga e a de saída é estreita”. A vida que se justifica apenas por um bom salário mas que não nos dá satisfação, alegria e auto realização é apenas uma forma diferente de comércio nefasto. Quanto vale o seu tempo? Sua saúde? Sua vida em família? Será que somos sábios o bastante para fazermos esta conta antes de nos atirarmos ao dinheiro puramente pelo dinheiro? Quantas pessoas vão fazer um concurso público pensando na estabilidade financeira mas não levam em conta o trabalho repetitivo e chato que terão que realizar por muitos anos? Ou ao contrário, quantas pessoas estão neste momento tentando encontrar um meio de ficar rico sem trabalhar? É triste mas quando alguém vem me dizer que está infeliz ou doente porque seu trabalho não faz sentido ou que as pessoas que convivem tem valores muito diferentes que o seu, fica a questão, quem foi que escolheu estar ali? Por quanto dinheiro está vendendo seu tempo de vida? Não seria um tipo conveniência se colocar em empregos/relacionamentos profissionais que apenas sugam aquilo que você tem de melhor e depois te descartam sem o menor cuidado ou consideração? As feridas deixadas por empresas que não tem o mínimo de empatia ou ética nos processos de desligamento são muitas, mesmo que na descrição de sua “missão” a mensagem seja de uma empresa que valoriza seus colaboradores, que tem ética e aprecia a diversidade. Escrever isso é fácil mas na hora de cumprir é muito diferente. 

Talvez eu não seja a melhor pessoa para falar sobre este tema, nunca quis ser empregada de ninguém apesar de ter tido vários empregos em minha vida, nunca desejei uma vida luxuosa ou o status de cargos de poder, apesar de achar um luxo poder escolher com quem desejo trabalhar e passar boa parte de meu tempo. Minha intuição desde sempre me apontou para um caminho fora da trilha profissional comum, passei por muitas dificuldades financeiras e crises ao longo de minha vida mas não vendi minha alma para ninguém que não respeitasse meu conhecimento ou talento, sempre achei que um pão com ovo comido com a alma leve era melhor que um salmão comprado com minha tristeza.

Sinto muito pelos que estão na armadilha da aparência, afundados em dívidas por comprar coisas que não precisam para mostrar para pessoas que não importam. É um buraco escuro e solitário, às vezes até sem saída. Os consultórios dos psicólogos, terapeutas e médicos estão abarrotados com pessoas com sintomas de depressão, ansiedade, insônia, apatia e sem motivação para viver, sem falar nas compulsões de bebidas, comidas e drogas lícitas ou não. Hoje uma grande parte da sociedade precisa de remédios para fazer as coisas mais simples e naturais da humanidade: dormir, comer e viver. Será que não está na hora de revermos nossas relações com dinheiro, trabalho e satisfação? Não seria o caso de orientarmos nossas crianças e jovens desde a mais tenra idade para desenvolver seus talentos e buscar sua vocação antes de “formá-los” para integrar a massa de pessoas que entrará no mercado de trabalho sem nem saber ao certo o que é sua principal missão neste mundo? Qual é o talento que lhe foi dado para realizar uma vida plena e feliz? Todos tem uma vocação, algo que é único e precioso mas que é solenemente ignorado pelas escolas e famílias em nome de um cargo ou trabalho, seja qual for o custo emocional e físico.

É pra isso que estamos aqui neste belo planeta? Pra pagar boleto, procriar, envelhecer, adoecer e morrer sem levar nadinha dos bens e objetos que adquirimos? Que lástima!

Não tenho uma solução fácil para apontar, apenas uma reflexão que traz uma indignação na forma como adultos “bem sucedidos” estão doentes, ainda assim não percebem que o que falta na sua vida talvez não seja dinheiro e sim sentido. Infelizmente não há uma loja que venda sentido, autorealização e felicidade, temos que construir estas coisas a partir de dentro, a partir de escolhas mais lúcidas, até de sacrifícios pessoais, para que não nos tornemos mais um na estatística das pessoas que perderam a oportunidade de alcançar os níveis mais altos de auto realização porque estavam ocupados tentando aparentar riqueza e felicidade mas que ao deitar na cama à noite não conseguem dormir, não apreciam as coisas simples da vida e sentem que nada e nem ninguém realmente se importa.

Talvez não seja possível mudar o início de sua história, mas com certeza dá pra mudar o fim, pense nisso!

Regina Proença

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