A Boca do Lixo
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Mais uma vez somos aturdidos pelos exemplos que vêm dos governantes de nosso país. Não vou discorrer sobre os termos utilizados por estes senhores que estão levando nossa pátria a níveis impensáveis de baixaria. O que mais me incomoda não são os palavrões pois quem me conhece sabe que também costumo utilizá-los quando não há outra palavra melhor para expressar meus sentimentos. Não quero soar puritana e nem hipócrita, mas acredito que há lugares e ocasiões onde podemos livremente dizê-los sem que isso tenha tanto peso. Se acaso fosse um churrasco entre amigos, um encontro não-oficial ou uma “pelada”, sem importante decisões a serem tomadas, não haveria problema algum, seria apenas vulgar e ponto.
Como educadora e livre pensadora, sinto-me ultrajada com aquela reunião, entristecida com as posições e propostas dos ministros da educação e meio ambiente (em letras minúsculas aqui, pois não merecem a mínima deferência de minha parte). Quanto ódio, intolerância e estupidez. Nossas florestas e povos originários mereciam ser tratados com mais dignidade e respeito. Deveríamos estar buscando soluções para preservar e proteger as nações indígenas, afinal, desde que Cabral aportou por aqui, tomamos suas terras, exploramos as riquezas, devastamos sua cultura e estamos inviabilizando sua existência no futuro.
Enquanto isso, alguns aplaudem as insanidades do chefe da casa, se omitem e abanam o rabinho. Sabe-se lá se por concordância, por medo, conveniência ou outras razões que minha mente não alcança. A reflexão de Martin Luther King “O que me assusta não é o grito dos violentos, mas o silêncio dos bons” me ocorre mais de uma vez por dia. As omissões são mais chocantes dos que os que vomitam frases de puro veneno.
São tantos desafios que o momento nos apresenta: pandemia, crises em todas as direções, problemas reais, sérios e urgentes. Situações que exigem inteligência, estratégia, cuidado e amor ao próximo. Porém, o que parece ser mais importante entre estes senhores e senhoras é eliminar os discordantes, trocar todas as peças do tabuleiro até que existam apenas os “iguais”.
Há muito aprendi que o mal sempre se precipita e acaba por se contaminar por seu próprio veneno. Os peões, reis e rainhas nunca duram para sempre; quando o tempo chegar, todos serão guardados na caixa, ou no caixão. O poder é sempre transitório; enquanto prevalece, é capaz de causar muitos estragos, mas não dura para sempre.
Não preciso perder meu tempo e energia desejando mal aos que estão acabando com a moralidade e a decência, aos “cristãos” que xingam, julgam, condenam, mentem, traem e se revelam cheios de pecados. A lei do carma dará conta de todos, para bem ou para mal, pois toda ação traz consequências, na mesma medida e proporção. Aspiro que a lucidez os alcance e tento perdoá-los como Jesus o faria, afinal, “eles não sabem o que fazem”. A compaixão é uma qualidade que procuro desenvolver, principalmente nestas ocasiões desafiadoras – confesso que a cada noticiário fica mais difícil, mas sigo tentando. Ainda não cheguei ao nível do Dalai Lama de bondade e compaixão ilimitados, mas essa é a meta. Ainda bem que há muitas vidas para se alcançar este patamar, nesta encarnação talvez não dê tempo…
Quando a pandemia passar, quando este governo cair ou sair, quando a liberdade e a ética puderem ser celebradas sem a sombra que tomou conta de nossa pátria, espero estar firme e forte para poder ajudar a juntar as peças deste quebra cabeça que é o samsara e encontrar algum sentido para tanto sofrimento.
O mundo está precisando de almas boas e dispostas a agir em prol de todos, dos irmãos e irmãs que habitam este lindo planeta. O futuro pode ser bom se assim o fizermos. Por isso, oremos, plantemos as sementes do bem e da concórdia. Seguimos juntos sonhando e acreditando que dias melhores virão!
Mãos em prece.
Regina Proença