Inteligência não é Consciência
Estamos ainda sob o impacto que a Inteligência Artificial está causando nas interações. Muito se fala dos avanços e como a IA pode ser uma ferramenta útil, há também diversos perigos na sua utilização e como isso pode gerar mais problemas do que soluções. Eu acredito que o melhor da inteligência humana é a sensibilidade, a empatia e a capacidade de sentir compaixão pelos outros. Coisas que nenhuma IA pode nos propiciar. Afinal, inteligência não é consciência. Não sou a melhor fonte de conhecimento em relação aos avanços tecnológicos, por mais admiráveis que sejam, ainda assim, na minha opinião é limitado. Como a IA pode transmitir incontáveis informações mas não será capaz de revelar o perfume de uma flor, o gosto de um beijo ou a importância de suas boas ações para tornar o mundo um lugar melhor.
Certa vez li que a sociedade imaginava que com a utilização de utensílios domésticos que “facilitam” nossa vida como máquina de lavar roupa e louça, aspirador de pó, cortador de grama, etc, nós teríamos mais tempo livre para aproveitar a vida, curtir a natureza, os amigos e familiares. Com esse tempo livre, poderíamos nos dedicar à arte, à cultura e ao lazer. Grande mentira! Passamos mais tempo trabalhando, alienados de tudo e viciados em consumir produtos industrializados e pobres nutricionalmente. Hoje somos mais sedentários e muito menos saudáveis. Nosso sofá é testemunha de quantas horas passamos assistindo filmes e séries, comendo bobagens e jogando vídeo games. Não sou contra esse tipo de entretenimento, mas quando vejo meus alunos adolescentes dizendo que passam seis horas por dia (ou mais) jogando videogame fico me perguntando o quanto seu potencial intelectual está sendo desperdiçado. Atualmente o número de pessoas que têm hábitos de leitura ou disciplina de estudo é cada vez menor. O futuro vai nos trazer uma geração de incapazes, ansiosos, consumistas e infelizmente depressivos, pois sem o desenvolvimento da consciência, sensibilidade, empatia e compaixão a vida fica completamente sem sentido.
Uma vida onde não há reflexão, discernimento e espírito de serviço não gera seres humanos resilientes e compassivos. Apenas aumenta o número de indivíduos egoístas, consumistas e que em nada melhoram a condição de existência pacífica e harmoniosa no planeta. Talvez num futuro próximo (como já descrito em novelas, livros e filmes ) a IA perceba que os seres humanos sejam o fator de desequilíbrio da vida no planeta e decidam nos eliminar, justificariam nossa extinção com os argumentos de que só usamos os recursos naturais sem responsabilidade, poluímos nossos rios, mares, ar e terra sem nenhuma preocupação, agimos violentamente contra nossos irmãos humanos causando guerras, discórdia e crises sociais. Maltratamos animais, desrespeitamos os anciões, violamos templos e santuários, matamos povos originários e pouco ou quase nada pode ser de fato considerado como comportamentos de seres evoluídos ou espiritualizados.
De fato, se isso acontecesse não poderíamos reclamar, seríamos realmente úteis para o planeta? Qual é nossa melhor versão? Fica aí uma boa pergunta para fazer a AI, somos naturalmente ignorantes ou artificialmente inteligentes?
Espero ainda ver o florescimento de uma sociedade madura, que reflita sobre ideias ao invés de brigar por opiniões, que busque soluções que favoreçam a todos e não apenas aos “seus”. Uma sociedade que mantenha a união como espécie e não se afaste devido a cor, orientação sexual, partido político ou religião. Uma sociedade que nos prove a superioridade do ser humano em relação às máquinas. Onde o maior sinal de vida inteligente seja a vontade de evoluir moralmente e espiritualmente, pois infelizmente concluímos este artigo com a constatação de que inteligência não é consciência!
Regina Proença é filósofa, livre pensadora e escreveu este artigo com sua própria inteligência e ideias. Coordena as atividades do Coletivo Cultural Fora da Caixa.