Natal Imaterial

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Está difícil pensar nas imagens relacionadas ao Natal que são empurradas nossa goela abaixo pelas mídias, Papai Noel, renas, neve e muitos presentes. Nem vou mencionar que a imagem de Jesus está bem longe de ocupar as vitrines e ofertas de produtos. Se desse pra vender Jesus com a mesma facilidade que Santa Klaus tenho certeza que as empresas teriam vários modelos, grande, pequeno, de casaco, botas, sunga ou o básico mesmo com uma longa bata branca. Com este calor escaldante, vai ser complicado digerir os pratos típicos que em sua grande maioria são pesados, deliciosos sim, mas inapropriados para nosso verão com ondas intensas de altas temperaturas.

Gostaria de imaginar um Natal diferente, onde ao invés das pessoas comprarem os produtos “tradicionais” houvesse uma campanha para revolucionar os objetivos da festa. Quem sabe os presentes poderiam ser trocados por doações de alimentos, roupas e artigos de necessidade básica aos mais carentes, recursos poderiam ser enviados para aliviar o sofrimento das vítimas dos conflitos na faixa de Gaza ou comunidades da periferia, isso seria realmente a demonstração autêntica de um espírito cristão. Mas certamente é apenas um devaneio meu, um delírio de alguém que não se identifica com o exagero e a ostentação destas festas.

Na minha utopia particular os presentes imateriais poderiam virar tendência, como doar uma parte de seu tempo para ler histórias em um abrigo de crianças, fazer algum trabalho voluntário em uma ong, ajudar a cuidar de idosos que precisam muito de carinho e atenção, ligar para pessoas que estão longe de seus familiares ou perderam seus entes queridos para alegrá-los um pouquinho nesta época tão sentimental. Quem sabe convidar alguém que está solitário para participar de sua ceia de Natal. Não é preciso comprar nada, o presente mais precioso é a atenção, a presença e o carinho, isso basta.

É uma pena que a medida de afeto tenha se tornado “coisas”, se você não ganhar um presente caro é como se não fosse amado. E as crianças então, nada de lembrancinhas, pais e avós tem que fazer longos parcelamentos para satisfazer o buraco sem fundo dos pequenos. Assim transformamos um acontecimento espiritual em mega comercial, depois não dá pra reclamar se estas crianças se tornarem adultos consumistas e nunca satisfeitos com o que tem. Contentamento é uma palavra desconhecida para muitos. Como dizia Epicuro: “Nada é suficiente para quem julga o suficiente demasiadamente pouco.”

E assim caminha a humanidade, consumindo não apenas bens materiais mas também recursos naturais sem responsabilidade. Quem sabe ainda haja tempo para evoluir em nossas escolhas, mas assim como as dietas e a academia, as escolhas mais sábias serão adiadas até o ano que vem, vamos torcer para que o mundo sobreviva mais um ano apesar da humanidade.

Mãos em prece,

Regina Proença

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