Nepal – Afinidades que criam amizades

Compartilhar

Às vezes as amizades nascem de afinidades compartilhadas, outras acontecem após momentos de crise, no meu caso uma combinação das duas situações que aconteceram durante minha viagem ao Nepal.

Conheci Melinda Salzman no evento que participei de Educadores para Paz, ela já está há muito tempo envolvida com o grupo do IIPE, é formada em Serviço Social, trabalha como psicoterapeuta há mais de 40 anos. Em seu trabalho ela ajuda as pessoas a lidarem com perdas, sofrimentos, depressão e ansiedade, seu trabalho de facilitadora abrange grupos ou indivíduos com situações diversas de desafios.

Ela também trabalha na Universidade de George Washington no curso de Medicina ensinando alunos em seus primeiros anos a criar uma abordagem empática com seus pacientes. Enfim, uma pessoa aberta, curiosa e excelente ouvinte. 

Nos dias em que estivemos juntas criamos uma amizade instantânea, conversamos entre as atividades e acabamos criando um laço de cumplicidade. 

Desde o primeiro dia percebi uma situação inusitada em relação a sua saúde, um tipo de som involuntário que escapava ocasionalmente, algo que de acordo com a Medicina tradicional estava encontrando dificuldade em diagnosticar e tratar. Fiquei compadecida de sua situação e a convidei para ir comigo a uma consulta com uma médica tibetana para verificar se algo poderia ser feito a respeito. Como eu já havia planejado passar por uma consulta também e trazer alguns medicamentos tibetanos para mim e para alguns pacientes, não seria em vão fazer uma avaliação, afinal há muitos distúrbios que são tratáveis com a sabedoria desta medicina milenar e que na medicina ocidental ainda não há tratamentos disponíveis. Ela concordou e nos encontramos em Katmandu após o final do evento.

Juntas passamos o dia, fomos à consulta, almoçamos em um restaurante típico nepalês e acabamos por conhecer Yogesh, um anjo da guarda enviado por Gunjan para me ajudar com um problema que tive com meu cartão de débito internacional. 

Saber pedir e receber ajuda é algo que aprendi ao longo de muitos perrengues, antigamente eu achava que o “problema era meu” e eu tinha que resolver tudo sozinha, sem atrapalhar a vida de ninguém… 

Hoje, após um longo período de aprendizado e sofrimento, mudei completamente. Não fico por aí pedindo ajuda, mas se a coisa apertar eu grito e chamo reforço! Incrivelmente nestas ocasiões a vida se mostra generosa e a “ pessoa certa” sempre aparece. Contar com a ajuda de estranhos para mim já ficou normalizado, o guarda do aeroporto, o vendedor de rua, o taxista, o amigo do amigo, a recepcionista da hospedaria, enfim, todos em algum momento ajudaram a alinhar meu caminho quando eu estava precisando de auxílio. É meio milagroso isso, a bondade das pessoas está lá, mas nossa desconfiança às vezes atrapalha e sofremos sozinhos com as adversidades. 

Depois de solucionada a questão do dinheiro, Yogesh se ofereceu a nos acompanhar no outro dia para fazer compras na cidade. Ele nos levou para fora do circuito turístico em uma loja colaborativa de mulheres solteiras que se ajudam e tem uma gama enorme de produtos. Ficamos encantadas com a diversidade e com sua iniciativa de nos ajudar e também ajudar as mulheres que revendem seus produtos na loja. A situação foi boa para todos, os preços eram justos, os produtos ótimos, o atendimento excelente e ainda com o resultado final sendo a ajuda para este grupo de mulheres. Lembramos que no Nepal a vida das mulheres solteiras ou separadas não é fácil, a sociedade ainda tem valores rígidos em relação a posição destas mulheres e muitas passam por dificuldades justamente por ficarem isoladas e sem uma rede de apoio. Abaixo uma foto minha com Yogesh enquanto fazíamos as compras.

Pensa numa loja que tem de tudo! Peças artesanais, pinturas, bolsas, roupas, bonecas típicas, até um Yak de pelúcia! Coisa mais fofa! São vários andares com muitas coisas bonitas, ideal para comprar presentes e souvenirs do Nepal.

Os produtos artesanais são o principal atrativo da loja, que conta ainda com uma oficina de costura e cria as roupas com tecidos tradicionais e sob medida. A proprietária ficou nossa amiga também, ela ficou encantada com nossa vitalidade e quis registrar este momento tirando fotos conosco.

Depois das compras fomos almoçar em um delicioso restaurante do outro lado da cidade, o plano era visitar outros locais turísticos mas o tempo passou tão rápido com uma conversa tão boa que acabamos deixando de lado o plano e ficamos apenas curtindo a companhia e aprendendo mais sobre a hospitalidade e generosidade dos nepaleses.

Eu adorei esta oportunidade de conviver, conhecer pessoas especiais com essa dupla que tornou minha viagem ainda mais deliciosa, além de aprofundar os laços de amizade que fizemos durante este período. 

Para encerrar minha viagem, já na pista do aeroporto encontrei essa senhorinha linda, vestida tradicionalmente, pronta para embarcar no avião com membros de sua família. Não resisti, pedi para tirar uma última foto, uma imagem para guardar no coração deste povo tão encantador, alegre, nobre e espiritualizado.

Sei que um dia vou voltar, me senti tão feliz, segura, abraçada e acolhida neste país, acho mesmo que tenho uma conexão espiritual com suas montanhas, com o budismo e a espiritualidade prática destas pessoas. Há um lugar muito especial em meu coração para este país e estas memórias. Até um dia! Namaste Nepal!

Regina Proença 

Comentários Facebook
Compartilhar