PROGRAMAS DE CULTURA DE PAZ – ESTRATÉGIAS PARA POTENCIALIZAR O APRENDIZADO DE CRIANÇAS E JOVENS.
Este artigo é resultado da Pesquisa e Intervenção desenvolvida pela equipe do Coletivo Cultural Fora da Caixa, em parceria com o Educandário e Instituto André Luiz, em Sorocaba, S.P.
Regina Proença – Filosofa, Mestra em Comunicação e Cultura, fundadora e coordenadora do Coletivo Cultural Fora da Caixa.
Resumo
Neste artigo estão atualizados os resultados obtidos com dois programas de Cultura de Paz: Educação para Paz e Liderança para o Futuro. Ambos foram realizados por membros da equipe do Coletivo Cultural Fora da Caixa entre os anos de 2018 e 2019. Os resultados são parciais pois os projetos estão em pleno processo de multiplicação, expansão e aprofundamento. Aqui apresentamos as principais observações, as atividades que tiveram maior impacto, os temas, vídeos, fotos e as respostas obtidas nos questionários e redações escritas pelos participantes. Nossa equipe de facilitadores é composta por indivíduos capacitados ou em processo de capacitação no programa de Educação para Paz, realizado na sede do Coletivo Cultural Fora da Caixa.
O programa de Educação para Paz tem como objetivo a capacitação de professores, educadores, gestores e indivíduos interessados em aprender como lidar com situações de bullying, preconceito racial, intolerância religiosa e crises dentro e fora do contexto escolar, utilizando diversas estratégias de cultura de paz, filosofia e autoconhecimento. O programa de Liderança para o Futuro vem sendo implementado com 30 crianças entre 06 e 12 anos e 40 jovens entre 13 e 17 anos, que participam do Educandário e Instituto André Luiz. Os dois programas visam um aprendizado social, emocional e ético de forma secular, cultivando o desenvolvimento moral dos participantes através da empatia, compaixão, altruísmo e autoconhecimento; fortalecendo os valores positivos como a cooperação, responsabilidade e o respeito; desenvolvendo maior autonomia, capacidade de atenção, concentração, cooperação, habilidades sociais e postura ética.
Palavras-chave: educação social; educação emocional; ética; mindfulness; compaixão; não-violência; educação para paz; inteligência emocional.
1. Introdução
Este artigo é resultado da implementação de dois programas realizados pela equipe do Coletivo Cultural Fora da Caixa: “Educação para a Paz” e “Liderança para o Futuro”. O primeiro é composto por indivíduos interessados que integram a equipe de facilitadores do Coletivo Cultural Fora da Caixa e o segundo foi realizado com os alunos do Educandário e Instituto André Luiz, instituição inovadora e solidária que potencializa o aprendizado de crianças e jovens oriundos da rede pública na cidade de Sorocaba. Ambos os programas são norteados pelos mesmos fundamentos de uma educação que valoriza o diálogo, a ética, compaixão e espírito de serviço. Atualmente, enfrentamos uma crise de valores humanos; a cada dia, o abismo que divide as pessoas em grupos que se isolam e favorecem a discriminação aumenta, assim como a intolerância, a violência, as agressões devido a crenças religiosas, cor da pele ou orientação sexual e os casos de bullying, que também são cada vez mais frequentes. Estamos convictos de que não basta criarmos uma sociedade de pessoas bem-sucedidas materialmente mas que não estejam comprometidas com o cuidado do planeta, não cultivem boas relações com sua comunidade e não tenham autoconhecimento para lidar com as questões internas como a ansiedade, estresse e depressão. Infelizmente, observamos um aumento significativo no índice de distúrbios emocionais e suicídios entre os jovens.
2. Objetivos
Os objetivos gerais são: desenvolver nos participantes as habilidades de diálogo e mediação para a resolução de conflitos; fortalecer a empatia e o autocontrole; promover a valorização da diversidade; promover um aprendizado sócio-emocional e ético e fortalecer a inteligência emocional. Encorajamos os participantes ao engajamento e à participação na busca de soluções de problemas sociais, ambientais e éticos.
Os objetivos específicos são: redução de queixas de violência e preconceito dentro da escola; redução de afastamento devido a situações relacionadas ao estresse, bullying e falta de motivação; maior capacidade de aceitar as diferenças e lidar com situações de vulnerabilidade psíquica e social; promover a tolerância, o diálogo e a paz no ambiente escolar; integrar os professores, gestores, alunos e pais em atividades conjuntas como vivências, mutirões, festividades e campanhas beneficentes.
2. Metodologia
O “Educação para Paz” é um programa inovador criado por Regina Proença a partir de mais de vinte e cinco anos de experiência e trabalhos na área de Educação e Cultura de Paz.
O grupo de facilitadores que atua no programa começou os estudos em 2015, com encontros quinzenais de 3 horas na sede do Coletivo Cultural Fora da Caixa, onde foram abordados estudos de filosofia, neurociência, meditação e as estratégias de cultura de paz e não-violência criadas por Mahatma Gandhi. O critério para a seleção e formação deste grupo foi ter interesse no programa proposto e disponibilidade para aplicação do aprendizado em nossos projetos de trabalho voluntário. Após 3 anos de capacitação em “Educação para Paz”, os participantes se tornaram facilitadores e atualmente integram nossa equipe e atuam no programa de “Liderança para o Futuro”.
O programa “Liderança para o Futuro” é um programa piloto de caráter inovador, dividido em 3 ciclos, sendo eles: social, emocional e ético. Foi realizado quinzenalmente, com a duração de quatro horas, entre Junho e Novembro de 2018 e Fevereiro e Novembro de 2019, no Educandário e Instituto André Luiz, que oferece aulas no contra turno escolar para crianças e jovens que estudam na rede pública e destacam-se por seu potencial acadêmico, seu comportamento e suas notas. No “Educandário” são oferecidas aulas de 10 matérias presentes no currículo escolar nacional obrigatório, além de inglês, espanhol e xadrez, com o propósito de potencializar o rendimento dos alunos e ajudá-los a conquistar bolsas de estudo em boas escolas para o colegial e/ou universidade. A amostra deste programa foi composta por 64 participantes com idades entre 06 e 17 anos.
O ciclo “social” aborda principalmente os movimentos de conquista de direitos civis que utilizaram as estratégias de não-violência criadas por Mahatma Gandhi e o conteúdo é apresentados através de documentários, filmes, aulas expositivas e vivências.
O ciclo ”emocional” introduz as práticas contemplativas de meditação, atenção, concentração e ensina diversas estratégias para lidar com emoções perturbadoras como raiva, ansiedade, depressão e estresse. São apresentadas algumas pesquisas recentes de neurociência, inteligência emocional, auto-compaixão, compaixão e altruísmo.
O ciclo “ético” traz reflexões para os alunos sobre as principais escolhas existenciais e motiva os participantes a engajarem-se em ações que promovam o bem comum, que melhorem as condições de vida no planeta e beneficiem diretamente sua comunidade. Realizamos a leitura compartilhada de estórias de sabedoria, contos e mitos e assistimos documentários sobre Filosofia. Acreditamos no poder do diálogo e das reflexões em grupo para oferecer modelos saudáveis de convivência, auto superação, empoderamento, honra e valores humanos. Abordamos neste ciclo temas transversais como: felicidade, propósito, liderança, vocação, ética, ecologia, educação, relacionamentos, saúde e qualidade de vida.
2.1. Avaliação dos Resultados
Os resultados do programa são mensurados através dos seguintes instrumentos: observação não estruturada, entrevista não estruturada e questionários de avaliação, apresentação oral de trabalhos em grupo em sala e redações.
Cada encontro é realizado por um ou dois facilitadores, que coordenam as atividades e realizam a observação não estruturada, registrando os pontos importantes que se evidenciaram e observações pessoais para melhoria do projeto (alguns dos encontros são filmados e fotografados). Posteriormente, os resultados são avaliados em reuniões de equipe, para verificar se o programa está atingindo os objetivos definidos e aprimorar a atuação dos facilitadores.
As entrevistas são realizadas durante os encontros, num formato de roda de conversa e/ou através de encontros individuais. Ao final de cada ciclo, é aplicado um questionário aberto onde os alunos devem comentar sobre suas percepções acerca dos temas e atividades apresentadas durante os encontros. Também são aplicados questionários de avaliação de estresse, autocompaixão e burnout no início e ao final do programa. Estes instrumentos nos auxiliam na avaliação do impacto dos programas “Educação para Paz” e “Liderança para o Futuro” (PIRES et al., 2015).
Como forma de difundir e expandir o conhecimento sobre o percurso dos programas, publicaremos em nossa revista digital Openzine os resultados dos encontros com a descrição dos temas, fotos e vídeos das atividades realizadas com o intuito de inspirar outros educadores na criação de um currículo que promova uma educação norteada por valores humanos, ética e não-violência.
2.2. Estrutura do Programa
O programa não é linear; os temas são apresentados através de aulas expositivas, dinâmicas em grupo, apresentação de vídeos, leitura de textos, rodas de conversa, práticas de meditação e relaxamento. Existem 3 dimensões principais que norteiam o programa: “Eu comigo mesmo”, “Eu com os outros” e “Eu com o planeta”.
2.2.1. Eu comigo mesmo
Como podemos nos conhecer melhor e desenvolver qualidades que possam ajudar na redução da ansiedade, estresse e nos motive a mudar hábitos negativos e substituí-los por ações saudáveis? Como podemos ser felizes e auto realizados? Como fazer melhores escolhas e planejar o futuro que desejamos? O que eu faço da minha vida?
2.2.2. Eu com os outros
Como melhorar a qualidade dos meus relacionamentos? Como dialogar sem discutir? Como posso interagir com meus familiares e amigos sem deixar de ser autêntico e evitar conflitos desnecessários? Como me libertar do peso das opiniões alheias e conviver pacificamente com as diferenças?
2.2.3. Eu com o planeta
Como mobilizar o maior número de pessoas engajadas em proteger o planeta e participar ativamente de movimentos de ajuda a causas nobres, como: salvar vidas, cuidar de animais abandonados, ações de ecocidadania, ajudar em campanhas de arrecadação de fundos e doações para entidades assistenciais, se envolver na criação de hortas comunitárias, plantio de árvores, mutirões, campanhas virtuais, etc.
2.2.4. Benefícios
Um dos benefícios dos programas é a criação de um ambiente favorável e harmonioso entre professores, alunos e comunidade, fortalecendo laços afetivos; diminuindo a vulnerabilidade social e psicológica; diminuindo o índice de abandono escolar, fortalecendo a autoconfiança em relação ao potencial acadêmico e sócio-emocional de cada um.
2.2.5. Estudos
Entre os tópicos de estudo e atividades para desenvolvimento destas competências, estão:
– O estudo da natureza da mente e corpo, pesquisas no campo da neurociência e epigenética;
– Reflexões e formação de convicções – Filosofia: Ética, Não-violência, Valores;
– Práticas contemplativas: meta-atenção, meditação, mindfulness, relaxamento;
– Emoções destrutivas – Raiva, estresse, depressão, ansiedade e apatia;
– Motivação e engajamento: Talentos, Afetos, Causas, Meio ambiente e Ação Social;
– Oficinas de arte, música, dinâmicas em grupo e jogos cooperativos;
– Leituras compartilhadas de estórias de sabedoria, contos e mitos;
– Visitas guiadas a exposições artísticas, concertos musicais e ambientes naturais como parques, reservas naturais, etc.
2.2.6. Meditações
Entre as meditações ensinadas e praticadas com os alunos está a meditação do amor altruísta e da compaixão: shamatha e metabavana. Durante essas meditações, verifica-se a possibilidade de um aumento notável na sincronização das oscilações das ondas cerebrais nas frequências chamadas de gama, associadas à conectividade entre diferentes áreas do cérebro.
“Para sentirmos compaixão e benevolência verdadeiras para com o outro devemos escolher uma pessoa real como objeto de meditação e aumentar nossa compaixão e nosso amor benevolente em relação a essa pessoa, antes de estendê-los a outros. Trabalhamos com uma pessoa de cada vez; caso contrário, nossa compaixão dilui-se em um sentimento muitíssimo generalizado e nossa meditação perderá concentração e força”, como afirma o Dalai Lama (2015).
Durante a prática da meditação do amor altruísta e compaixão, primeiro dirigimos nossa atenção a nós mesmos de forma auto compassiva e em seguida pensamos em um ser querido ao qual dirigimos nosso amor e benevolência incondicionais. Depois expandimos esse sentimento a outros seres que gostamos e em seguida àqueles que temos alguma dificuldade.
3. Panorama dos Encontros
No primeiro encontro do programa de “Liderança” foi aplicado um teste vocacional, seguido de uma roda de conversa sobre profissões e aspirações futuras. Alguns ficaram surpresos pelo alinhamento do resultado com as escolhas que eles já tinham anteriormente, enquanto outros vislumbraram novas possibilidades de profissões e/ou talentos a serem desenvolvidos.
Realizamos, sempre no início das atividades, um momento de contemplação e meditação, livre ou direcionada. Entre as principais práticas aplicadas, estão relaxamento, mindfulness, shamata e metabavana.
Nossos alunos que participaram do projeto em 2018 e 2019.
Durante os encontros do primeiro ciclo foram apresentados 3 episódios do documentário: “Uma força mais poderosa – Um século de conflitos não violentos” e o documentário “Olhos azuis” de Jane Elliott, uma professora americana contemporânea de Martin Luther King que realizou com seus alunos um exercício onde eles vivenciaram situações de discriminação e racismo.
Após as exibições, foram realizadas rodas de diálogo onde os alunos relataram as emoções, sentimentos e percepções sobre as atividades. Abaixo estão alguns comentários sobre o documentário “Olhos Azuis”: “Achei importante esse documentário sobre racismo para pelo menos saber como é, porque não tem como eu falar que sei como é, porque não sei. E sabendo, elimina boa parte do racismo”. Através deste comentário, feito por um jovem branco, podemos perceber como o documentário despertou empatia no aluno, contemplando o objetivo de promoção da paz e tolerância, propostos pelo programa. Outra aluna disse: “É uma lição de vida, uma pessoa (se referindo a Jane) para se ter como referência. Quando se tem um assunto e não é falado, as pessoas não dão importância, e continuam fazendo (propagando o racismo). É uma maneira de fazer com que as pessoas se coloquem no lugar do outro. Excluir as pessoas não atrapalha só o momento, mas o futuro também. Nem tenho o que falar, o vídeo inteiro é uma lição”. Através do comentário desta aluna, podemos perceber o quanto o documentário foi impactante. Em seguida, outra aluna negra deu um depoimento sobre uma situação em que ela e sua mãe sofreram discriminação social e racial: “Fui a pé com minha mãe ver um curso, (…) chegou uma moça de carro, branca, e o pessoal do curso abraçou e tocou na mão dela, e pra gente nada. Eu disse que fazia parte do grêmio mas ela rebaixou o trabalho da minha mãe, como se eu não fizesse nada de importante, eu saí de lá e chorei, porque aquilo foi muito triste”.
Depoimentos como este foram muito impactantes, mas foram importantes na criação de vínculo, empatia e apoio entre os integrantes do grupo, estimulando um ambiente seguro para se expressarem, podendo ouvir e serem ouvidos e, principalmente, sendo acolhidos pelo grupo. Também foi possível perceber o pessimismo de alguns alunos com relação à mudança social, como neste comentário de uma aluna: “A sociedade sabe o quanto é ruim e mesmo assim faz (preconceito e discriminação racial), acho que as pessoas vão sair daqui e esquecer o que viram”. Através desse comentário houve também a oportunidade de refletir sobre como podemos aplicar as estratégias de não violência para realizar uma mudança.
Apresentação do nosso projeto na Unifesp em Outubro de 2018.
Ainda durante os encontros, refletimos sobre como a cultura do local pode transformar-se em impossibilidade de escolha (ex: códigos de vestimenta, casamentos arranjados, violência estrutural, discriminação religiosa e racial, proibição de mulheres frequentarem escolas) que resultam em injustiças, falta de diálogo e ética nas relações.
Sobre a postura de Jane Elliot, um dos alunos comentou: “Ela foi muito bondosa em fazer o workshop e dar oportunidade para as pessoas serem melhores. Se você se põe no lugar das pessoas e sente o que as elas sentem, você não vai fazer mais isso”. Uma das alunas, que relatou viver em um ambiente repressor, teve um depoimento especial, falando sobre os benefícios e o que sente do programa. “Fico contando os dias para chegar essas aulas, porque nunca achei que eu poderia conversar e falar sobre esses assuntos, sem ter que entrar em conflito”.
Link do vídeo com o depoimento dos alunos sobre o documentário Blue Eyes de Jane Elliot: https://business.facebook.com/foradacaixacoletivo/videos/538974206523896/
Alunos que participaram projeto de 2019
3.1. Avaliação Estruturada do Programa
Aplicamos questionários onde os alunos puderam relatar quais tópicos e atividades tiveram o maior impacto em suas ações e quais estratégias de não violência eles utilizariam na comunidade. Convidamos os participantes a avaliarem a atuação dos facilitadores, do conteúdo apresentado e atividades realizadas. Eles também puderam escolher, entre vários temas, uma aula bônus sobre um assunto que tinham interesse em aprender ou se aprofundar. As respostas foram incríveis e ofereceram um rico material para nossa equipe aprimorar nossas ações e propostas. Segue abaixo algumas fotos e a transcrição de algumas das respostas obtidas:
Pergunta: Qual estratégia de cultura de paz você poderia utilizar para melhorar sua vida e a comunidade?
“Não-violência e protestos pacíficos, pois estes tipos de acontecimentos usam geralmente violência e também podem deixar pessoas mortas, com essas ideias pacíficas a vida poderia ficar melhor”. (Vitor, 10 anos)
“Uma das estratégias que achei bem interessante e eficaz é o boicote, pois as pessoas que praticam conseguem mostrar sua voz, sem precisar dizer nada”. (Luiza, 15 anos)
“Achei muito boa a ideia de Gandhi de não usar a violência, porque as pessoas hoje em dia só pensam em bater, matar e não é assim que se resolvem as coisas. Para os produtos que ainda são testados em animais podemos usar o boicote e diminuir a venda” (Ana Carolina, 13 anos)
“Desobediência civil justificada e marchas/protestos pacíficos. Desobediência civil eu vejo como algo muito amplo, eu aplicaria a pirataria de livros e filmes de conhecimento, porque eu penso que conhecimento não deve ser vendido. Eu participaria de marchas porque acho que é algo que une e mostra a força de uma sociedade”. (Victor, 14 anos)
Link com a apresentacao de Victor sobre Martin Luther King: https://business.facebook.com/foradacaixacoletivo/videos/565818953955716/
“Boicote: assim poderíamos chamar atenção do governo, pois se não há procura por tal produto, não tem porque produzir e sem produção não há lucro”. (Ana Carolina, 15 anos)
“Diálogo e Negociação, porque o diálogo é onde você escuta outras pessoas, assim podemos resolver problemas que envolvem a sociedade. Negociação, para elaborar o que será feito para resolver o problema proposto no diálogo. ” (Julia, 15 anos)
Pergunta: Qual dos documentários e temas de nossos encontros teve o maior impacto na sua vida e por que?
“O mais importante para mim foi o do Mahatma Gandhi, quando ele usou a estratégia de desobediência civil justificada, porque milhares de pessoas se juntaram a ele e não reagiram à violência das autoridades”. (Bianca, 14 anos)
“Olhos Azuis, de Jane Elliot, porque ela faz que todo mundo estivesse na pele do negro, ela fez com que pessoas brancas, de cor de olhos diferentes, principalmente azuis e fez elas sentirem o racismo e o bullying”. (Miguel, 12 anos)
“O documentário de Martin Luther King, porque vimos que eles sofreram muito, com dificuldades eles lutaram por seus direitos e todos se ajudaram”. (Ana Julia, 12 anos)
“O que mais me impactou foi “Olhos Azuis” pelo fato de ainda vivermos em uma sociedade racista. A forma como Jane Elliot atuava com o racismo contrário, para mim foi extraordinária pois fez com que as pessoas realmente se sentissem como os negros”. (Camilla, 15 anos)
“Para mim, foram dois, a palestra sobre Felicidade da filósofa Lucia Helena Galvão e o trabalho sobre Gandhi. Isso tudo me tocou muito, na maneira que eu pensava, que eu achava certo. Eles me mostraram novas maneiras de ver o mundo, novas formas de ajudar o mundo”. (Luanna, 16 anos)
“As palestras da Lucia Helena Galvão, ela me fez pensar e refletir muito sobre a felicidade, pois eu nunca havia pensado nesse assunto de forma tão aprofundada”. (Mariana, 16 anos)
“O filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, pois ele mostra como devemos valorizar a literatura e a arte. Como estimular nossa maneira de criar e pensar. O documentário sobre a “Felicidade”, pois me fez ter outras perspectivas do que é ser feliz de verdade”. (Isadora, 15 anos)
“O filme “Sociedade dos Poetas Mortos” foi o mais importante para mim, pois esse filme abordou temas importantes e muito presentes nos dias de hoje, como por exemplo: o suicídio, a influência dos professores na nossa vida, a influência dos pais, etc.” (Biancca, 15 anos)
“O documentário sobre a Segunda Guerra (Uma força mais poderosa), onde mostra como a Dinamarca não deixou os judeus serem levados, como também foram escondidos em casas de pessoas de bom coração, eles não combateram Hitler com armas”. (Julia, 15 anos)
“O documentário “Noite dos Cristais”, que mostra a covardia alemã contra o povo judeu. E os atos de desobediência civil na Dinamarca para defender a população judia em seu país”. (Caio, 13 anos)
“O documentário que me chamou mais atenção foi o do Gandhi, como eu nunca tinha escutado falar sobre ele, achei muito legal conhecê-lo. Me encantou a forma como ele lidava com as pressões colocadas nele, isso foi um ensinamento que tento levar para todos, e até para mim. Depois daquele documentário mudou completamente meus pensamentos”. (Giane, 15 anos)
Pergunta: Se você pudesse escolher alguém como modelo de ser humano, alguém que pudesse servir de inspiração para sua vida e suas ações, quem você escolheria?
“Gandhi, pois tudo o que ele fez foi incrível”. (Mariana, 16 anos)
“Meu pai e meu avô. Para mim eles são incríveis, eles são minha inspiração desde que que era pequena. Por eles serem dedicados, protetores e incríveis de várias maneiras”. (Luanna, 16 anos)
“Pode parecer clichê, mas eu escolheria minha mãe, pois ela é uma mulher que eu admiro e que sempre me deu ótimos conselhos”. (Isadora, 15 anos)
“Com certeza seria a Malala, porque ela sendo tão nova, transformou o pensamento e a realidade das pessoas onde ela morava”. (Ana Carolina, 16 anos)
“Eu acredito que eu viveria como Jesus Cristo, pois conheço um pouco da Bíblia e ele foi muito bom, pois ele é meu herói perante minha crença”. (João Gabriel, 15 anos)
“Ninguém, porque na minha opinião ninguém é perfeito, e estamos todos sempre precisando melhorar em vários aspectos. E quando você coloca um ser humano como exemplo você acaba idolatrando a pessoa no seu subconsciente”. (Nicolly, 15 anos)
“A Lucia Helena Galvão, porque ela tem conceitos de filosofia e felicidade dos quais eu nunca parei para refletir”. (Caio, 13 anos)
“Minha avó, acho que até hoje não encontrei alguém tão calma e justa, sempre utilizou a conversa e às vezes meditava comigo. Hoje ela não está mais aqui, mas foi uma mulher muito forte e batalhadora e quando eu chegar nos meus 60 anos gostaria de ser que nem ela”. (Giane, 15 anos)
Pergunta: Gostaríamos de saber sua opinião sobre o programa de Liderança para o Futuro.Fique à vontade para dizer do que gostou mais, sugerir mudanças e criticar.
“Achei muito útil a realização de todos os encontros, pois eles me ensinaram muito sobre igualdade de todos e como trabalhando juntos temos mais forças. Depois de ter passado por esses encontros, a minha maneira de ver as outras pessoas mudou. Eu confesso que eu cometia algumas coisas erradas na escola, como piadas preconceituosas, mas agora eu sei o quão errado isso é”. (Caio, 14 anos)
“O projeto é maravilhoso, me senti meio ignorante pois eu não sabia de metade das coisas faladas e sem perceber cooperava com a sociedade opressora”. (Patrick, 14 anos)
“Eu gostei muito do formato de apresentação que nós tivemos, achei muito eficaz o modo que aprendemos sobre não-violência, foi uma experiência muito enriquecedora e agradável. As coisas mais legais foram os debates, que nos ajudaram a entender o ponto de vista dos outros e a repensar algumas de nossas ideias”. (Gabriel, 15 anos)
“Eu adorei participar desse programa incrível, principalmente por debatermos sobre temas importantíssimos que às vezes são considerados tabus”. (Gabriela, 14 anos)
“Foram sentimentos muito diferentes, os comentários e documentários me fizeram refletir por pelo menos três dias, algo que realmente me tocou muito e me fez lembrar de acontecimentos pessoais. Não pode ser posto em palavras tudo o que eu senti, foram coisas realmente profundas e que me fizeram evoluir. Uma ótima atividade, aguardo por mais”. (Gabriela, 15 anos)
“Achei excelente essa ideia de mostrar e falar sobre os assuntos polêmicos na sociedade. Essa maneira nos faz refletir sobre nossos atos corriqueiros, pode nos mudar e fazer com que nos tornemos seres humanos melhores, com o convívio e respeito agradáveis, proporcionando maior contato em meios sociais. Esse programa é uma oportunidade que todas as escolas públicas e particulares deveriam aderir!!”. (Ana Carolina, 15 anos)
“Eu me senti muito bem, todas as conversas me fizeram refletir sobre muitas coisas e mudou meus pensamentos sobre muitas coisas. Algumas conversas me fizeram refletir sobre quem sou e o que realmente significa ser feliz. Momentos de meditação me fazem refletir sobre meus pensamentos e tomar atitudes corretas”. (Luanna, 14 anos)
“Gostei muito sim, não tenho críticas, mas adoro os momentos que conversamos e a professora dá conselhos. Mas certos assuntos são desconfortáveis”. (Thauani, 13 anos)
“Gostei muito pois foi bem trabalhado e muito bem apresentado, mostrando documentários e práticas”. (Otavio, 14 anos)
“Eu vi o projeto como forma de autoconhecimento, uma forma de falar sobre coisas que eu não falava comumente na minha vida pessoal. Sou completamente grato, pois refleti muito mais sobre quem sou e quem quero ser”. (Henzel, 15 anos)
3.2. Documentários, filmes e vivências
Entre os temas que eles se interessaram em conhecer estava a história de Malala Youseff. Assistimos ao filme, que conta a trajetória dessa jovem paquistanesa que ganhou, aos 16 anos, o prêmio Nobel da Paz. As reflexões sobre a força moral, a luta pelo de direito de estudar e a liberdade de pensamento foram profundamente considerados. A identificação com as causas justas e pacíficas foram imediatas e despertou o melhor em todos no grupo.
Link com depoimento dos alunos: https://business.facebook.com/foradacaixacoletivo/videos/246993695935153/
Os alunos também participaram de uma vivência chamada “Caminhada do Privilégio” com o facilitador Bruno Esteves, e puderam perceber o quanto sua condição social é fruto de privilégios ou conquistas pessoais. Após a “caminhada”, as conversas aconteceram em roda e os depoimentos foram emocionantes.
Assistimos também ao filme “A Onda” (Die Welle), que é baseado em fatos reais e retrata a manipulação ideológica que foi realizada inicialmente como parte de um projeto acadêmico, mas que acabou por revelar sentimentos fascistas e provocou rupturas e violência entre os alunos da escola. Como estávamos em um período pré-eleitoral e o discurso de ódio e a violência em todas as mídias estavam à flor da pele, o filme foi um choque de realidade e ajudou a dissolver algumas opiniões mal refletidas e que incitavam a violência contra LGBTS, indígenas e negros.
Arte, música e filosofia também foram meios para elevar as reflexões e propiciar experiências mais suaves e culturais. Os alunos assistiram ao documentário de Alain de Botton sobre Epicuro e a Felicidade, e as reflexões sobre consumismo, falta de auto estima, isolamento e ambições foram ricas e trouxeram à tona a simplicidade proposta por Epicuro, que acreditava que autonomia, liberdade, reflexões e amigos são o bastante para sermos felizes.
Com o intuito de despertar a sensibilidade e a criatividade para arte, realizamos uma oficina de criação de mandalas, onde, ao som de música clássica, eles pintaram e ficaram completamente entretidos na atividade – relataram ter saído do encontro em estado de graça.
Visitamos com os alunos a exposição “Yby-Soroc” do artista Pedro Lopes, composta por 20 telas que retratam a história de nossa cidade desde antes de sua fundação. Foi uma experiência única, eles puderam conversar com o artista e conhecer a trajetória de seu processo criativo e sua pesquisa.
Link com vídeo de nossa visita na exposição: https://business.facebook.com/foradacaixacoletivo/videos/645458365852216/
Refletimos sobre a pesquisa do Dr. Masaru Emoto sobre a Mensagem da Água. Assistimos ao documentário, que mostra a realização das experiências e como as emoções, sentimentos e a música influenciam a formação das moléculas de água. Conversamos sobre as implicações deste conhecimento, pois a maior parte de nosso corpo e planeta é formada por água.
Link com as reflexões sobre o documentário sobre a pesquisa do Dr. Massaru Emoto: https://business.facebook.com/foradacaixacoletivo/videos/502611730227369/
Tivemos uma vivência sensorial/musical com a professora e musicista Nathalie Emanuelle Lousan Vial, onde os alunos puderam sentir como a vibração do som altera nosso estado emocional e cerebral, e saber mais sobre a importância das habilidades musicais para o aprendizado da matemática, além de alguns estudos de neurociências neste campo.
Link com imagens da apresentação musical: https://business.facebook.com/foradacaixacoletivo/videos/753630211678779/
Foi lindo participar da evolução do grupo e a criação de um ambiente de confiança, união, serenidade e concentração que os encontros propiciaram. As mudanças foram notadas por todos; professores e pais relataram mudanças positivas no comportamento de forma geral. Os jovens obtiveram excelentes resultados acadêmicos também, sendo este o principal intuito do Educandário e Instituto André Luiz, onde realizamos o programa de Liderança, que é uma instituição de educação solidária inovadora. Eles oferecem gratuitamente um ensino diferenciado e preparam jovens que vêm de escolas públicas e são bons alunos para conquistar bolsas de estudos em escolas particulares e exames de admissão de universidades, ou também para programas como o Ismart, que patrocinam a vida acadêmica de alunos que se destacam por suas notas, do colegial até a faculdade.
3.2. Resultados e Discussões
O programa tem previsão de continuidade de fevereiro a novembro de 2020. Os resultados coletados até o momento referem-se ao período de Junho a Dezembro de 2018 e Fevereiro a Novembro de 2019. Desde o início do projeto, em 2018, na sede atual do Educandário, de um total de 65 alunos atendidos, 35 deles conquistaram bolsas de estudo em boas escolas da cidade, sendo que 4 foram adotados pelo programa Ismart.
Os resultados acadêmicos obtidos pelos alunos foram excelentes e a oportunidade de estudar em escolas com uma melhor estrutura e professores qualificados pode prepará-los para avançar, no sentido de conquistar vagas nas universidades públicas ou bolsas em faculdades particulares, garantindo melhores condições de vida e realização profissional aos jovens e suas famílias. Para continuar o apoio e desenvolvimento social, emocional e ético oferecido por nossa equipe, os alunos bolsistas que estão estudando nas escolas particulares e por isso não estão frequentando o Educandário, foram convidados a continuar a participar do programa de Liderança para o Futuro em nossa sede, a partir de fevereiro de 2020.
Os resultados obtidos durante a realização do programa mostraram-se alinhados com os objetivos definidos. Durante os encontros, observamos que os participantes apresentaram uma melhor integração ao grupo, refletiram sobre os temas apresentados de forma desembaraçada e profunda. Houve vários relatos de histórias pessoais sobre situações de bullying, intolerância, preconceito racial e social. Alguns jovens relataram dificuldades emocionais, como processos de depressão e pensamentos suicidas, vivenciados pelos próprios alunos e/ou familiares.
Os participantes permaneceram unidos e mantiveram um apoio empático enquanto ouviam os relatos dos colegas. Muitos relataram não terem conhecimento prévio sobre estratégias que pudessem ser utilizadas nas ocasiões de divergência, tanto no ambiente familiar quanto no escolar, e sentiram que após os encontros onde aprenderam sobre não-violência e exemplos de resolução pacífica de conflitos, estavam mais confiantes e preparados para se expressarem mais livremente, lidando de forma mais equilibrada com as emoções de raiva, rejeição e impotência. Mesmo os mais tímidos, que inicialmente não gostavam de expressar opiniões, ao decorrer dos encontros nos surpreenderam e começaram a compartilhar com o grupo suas percepções sobre os temas apresentados.
Desafios para 2020
Pretendemos continuar a aplicação do programa de “Liderança” com 70 alunos remanescentes e novos alunos. Aproximadamente 20 jovens entre 12 e 17 anos, que deixaram o programa porque conquistaram bolsas de estudo participarão do programa na sede do coletivo. Alcançaremos aproximadamente 90 participantes.
A partir de fevereiro lançaremos um novo desafio: o projeto de Ecocidadania – Logística Reversa, Sustentabilidade, Educação Ambiental e Solidariedade. O programa será inserido no projeto educacional “Liderança para o Futuro”. A proposta deste projeto é conscientizar os indivíduos sobre os danos ao meio ambiente causados pelo descarte de equipamentos eletroeletrônicos na natureza, através da possibilidade da reciclagem e/ou conserto destes equipamentos. Serão oferecidos gratuitamente cursos e oficinas de informática, confecção de currículos e orientação vocacional, jardinagem, feira de troca e plantio de mudas. Também serão promovidas campanhas de solidariedade para arrecadar doações ao Bazar Solidário, que ajuda na geração de recursos para os projetos socioeducativos do Educandário e Instituto André Luiz e Casa Acolhedora Irmã Dulce, entidades parceiras do Coletivo Cultural Fora da Caixa.
O projeto de Ecocidania está alinhado com os seguintes objetivos de sustentabilidade das Nações Unidas:
– Reduzir a pobreza: Doar aquilo que você não precisa;
– Educação de Qualidade: Cursos gratuitos;
– Ação Climática – Educar pessoas sobre meios sustentáveis de vida;
– Vida no planeta – Plantar árvores e ensinar sobre os benefícios desta ação;
– Parcerias – buscar parcerias entre governo, sociedade civil e empresas para multiplicação das ações e alcançar os objetivos.
Ações propostas:
- Educação Ambiental – Conscientizar sobre os problemas relacionados ao meio ambiente como desmatamento, poluição da água, ar e terra; redução e separação do lixo através do engajamento de alunos, professores e famílias para criação de hábitos de consumo responsáveis, arrecadação de computadores, celulares e tablets, através de campanhas virtuais e criação de pontos de coleta específicos; criação de uma Eco moeda virtual para ser utilizada na aquisição de produtos em eventos, bazares e campanhas solidárias.
- Visita à Sinctronics com os alunos participantes do programa de Liderança para o Futuro realizado por nossa equipe.
- Oficina de Jardinagem – Como cultivar em casa ervas para chás e temperos. Propriedades terapêuticas e cuidados.
- Oficina de Compostagem – Como fazer compostagem utilizando resíduos orgânicos e materiais reciclados em casa para fazer adubo.
- Feira de troca e plantio de mudas – Mobilizar a comunidade para criar espaços verdes em casa, plantar árvores para reduzir os efeitos das mudanças climáticas e melhorar a qualidade de vida na cidade.
- Curso Gratuito de Informática – Curso de informática para jovens e adultos, introdução ao Windows (Word, Office, Excel), edição de vídeos.
- Oficina de Currículos e Orientação Vocacional –Aplicação de teste vocacional e palestra de orientação sobre profissões; confecção de currículos com orientação de uma Analista em Recursos Humanos.
- Solidariedade – Os computadores e equipamentos que estiverem em perfeito funcionamento serão doados ao Bazar Solidário, realizado mensalmente para arrecadar recursos para manutenção dos projetos socioeducativos do Educandário e Instituto André Luiz e Casa Acolhedora Irmã Dulce.
- Logística Reversa – Os equipamentos que não estiverem funcionando ou em condições de serem consertados serão encaminhados para a Sinctronics, empresa especializada em logística reversa, cumprindo com as etapas de coleta e reciclagem. O material recolhido reciclável será transformado em créditos virtuais de Ecomoeda.
4.Conclusões
Os jovens que participaram do programa de “Liderança para o Futuro” relataram um grande benefício em participar dos encontros, demonstrando que as estratégias introduzidas foram eficazes na integração, comunicação, respeito e união do grupo. Houve um aumento da empatia, redução de bullying, redução de problemas relacionados à ansiedade, fortalecimento de laços de amizade e respeito entre todos. Isso indica que a estrutura dos programas criou um ambiente favorável para se atingir os objetivos definidos. Através das práticas de diálogo, escuta empática e vivências, os participantes aprenderam a acolher opiniões divergentes, discordar com respeito e realizar uma comunicação mais eficiente, amorosa e inclusiva. Refletiram em grupo sobre suas escolhas, expressaram suas opiniões e sentimentos, o que possibilitou reconhecimento e transformação das emoções e atitudes. Encontraram, nas estratégias aprendidas, alternativas para ações mais elevadas. Houve também um maior engajamento dos indivíduos na comunidade em causas sociais de forma não-violenta e proativa.
A integração e a troca de experiências entre facilitadores, alunos, professores e comunidade vão além dos tópicos apresentados e têm valor imprescindível para a formação de caráter e o desenvolvimento emocional, social e ético dos indivíduos.
5.Agradecimentos
Agradecemos aos membros de nossa equipe do Coletivo Cultural Fora da Caixa, facilitadores e professores convidados. Em especial, agradecemos Ana Paula Cardoso e Pedro C. Navarro, co-fundadores do Educandário e Instituto André Luiz, que nos acolheram e confiaram em nossos projetos.
6. Justificativa de Capacitação
Desde que comecei meus estudos de mitologia e filosofia em 1993 eu sempre fui interessada em ensinamentos e práticas contemplativas, que buscam refletir sobre a felicidade e como encontrar maneiras de viver de forma harmoniosa e saudável. Integrei o grupo de Multiplicadores em Ética na Associação Palas Athena (S. P.), uma instituição onde, entre 1997 e 2004, estudei e trabalhei como professora de mitologia inspirada pelas obras de Joseph Campbell. Completei a minha licenciatura em Filosofia (UNISO) no ano de 2006. Entre meus estudos e trabalhos, existem algumas traduções para o português das palestras de Sua Santidade Dalai Lama para o Comitê Brasileiro de Libertação da ECO 92, o documentário “Compaixão no Exílio” e parte dos ensinamentos de Sua Santidade quando ele esteve em Curitiba, em 1999. Participei da tradução da autobiografia de Mahatma Gandhi: “Minha vida e minhas experiências com a Verdade”, publicado pela Editora Palas Athena com o apoio do Consulado da Índia no Brasil.
Estas obras tiveram uma imensa influência na minha vida e nortearam meus valores como ser humano e atividade como educadora.. Ao longo das últimas décadas, participei de muitos seminários e cursos de filosofia, mitologia, ética e meditação com professores das tradições hindus, cristãos e budistas, entre eles Edgar Morin, Jean Marie Muller e sua Santidade o Dalai Lama. Precisamente porque encontrei muitos pontos importantes na trajetória de vida de pessoas que difundem filosofias e valores humanos relevantes para a comunidade, em 2014 realizei meu mestrado em Comunicação e Cultura (UNISO), com foco na jornada do herói espiritual, baseando meu trabalho na obra Joseph Campbell. Pesquisei a vida do líder místico e espiritual João de Camargo, um ex-escravo que morou em Sorocaba, no início do século XIX. Ele atraiu multidões de pessoas e realizou inúmeras curas, é considerado como um Santo para seus seguidores. Ele construiu uma capela que atrai até hoje centenas de peregrinos todos os anos.
Em 2015 fundei o Coletivo Cultural Fora da Caixa e, desde então, estamos trabalhando ativamente na criação de um espaço de aprendizado e diálogo com a motivação de difundir valores humanos como altruísmo, compaixão, empatia e generosidade. Em nossa sede realizamos uma programação regular de cursos e tributos a pacifistas como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Mandela, Desmond Tutu, Dalai Lama, filósofos e mestres de sabedoria. Promovemos encontros de Meditação, Diálogo Inter religioso, Estratégias de Não-Violência, Educação para Paz, Liderança para o Futuro.
Nosso programa de Lideranca para o Futuro foi apresentado e premiado no Congresso de Adolescências na UNIFESP em outubro de 2018. Ainda em 2018, tomamos conhecimento sobre o SEE Learning, através de Sua Santidade Dalai Lama, em um encontro realizado em sua residência oficial em Dharamsala, com cientistas e educadores, organizado pelo Mind and Life Institute, que foi transmitido pela internet. Sentimos que havia uma afinidade entre nosso trabalho e o currículo de Educação Social, Emocional e Ética que a Universidade de Emory, com apoio de Sua Santidade, estava preparando. Entramos em contato com a universidade, enviamos um artigo de apresentação do programa de “Liderança” que estávamos realizando no Educandário e então fomos convidados pela Universidade de Emory para participar do evento de lançamento mundial e da Feira de Projetos de Educação, que aconteceu entre os dias 04 e 06 de abril, na cidade de Nova Deli.
Em novembro de 2019 fomos convidados pelo Núcleo da Conectando Saberes Sorocaba, apoiados pela Fundação Lemann e em parceria com a Secretaria Municipal de Sorocaba, para o receber uma premiação pelo nosso projeto de “Liderança para o futuro“, realizado pelo Coletivo Cultural Fora da Caixa em parceria com o Educandário e Instituto André Luiz. Nosso projeto foi selecionado e reconhecido como um dos dez melhores na cidade de Sorocaba. O evento de premiação foi realizado durante o Seminário Conectando Boas Práticas, realizado na manhã do dia 22 de novembro na cidade de Sorocaba, no Centro de Referência em Educação.
Integram a nossa equipe cinco indivíduos que atuam em diferentes áreas profissionais e têm um objetivo em comum: trabalhar no desenvolvimento de ações culturais, educacionais e sociais. Contamos também com uma rede de professores convidados que colaboram em nossos eventos e enriquecem nosso aprendizado.
Regina Proença é fundadora do coletivo, atua como professora, tradutora e pesquisadora. Graduada em Filosofia, mestre em Comunicação e Cultura. Praticante de meditação desde 2003. Há mais de 25 anos tem trabalhado ativamente na implementação de projetos de Cultura de Paz, Filosofia e Práticas Contemplativas. Atualmente, está trabalhando em seu projeto de pesquisa sobre o impacto das estratégias de não-violência, práticas contemplativas e a educação social, emocional e ética com crianças, jovens e adultos. Coordena as atividades do Coletivo Cultural Fora da Caixa. http://lattes.cnpq.br/8985144306903974
www.foradacaixacoletivo.com.br/openzine
Nathália Grespan é bióloga, artesã e redatora de nossa revista digital Openzine. Atua como professora no programa Free English e Liderança para o Futuro no Educandário.
Ricardo Albuquerque é graduado em Publicidade e Propaganda, desenvolvedor web, produtor de mídias digitais e da revista digital Openzine. Atua como colaborador nos projetos de Liderança para o Futuro e Educação para Paz.
Mirela Proença é graduada em Recursos Humanos, participa como colaboradora nos eventos e no programa de Liderança para o Futuro.
Nathalie Lousan Vial tem graduação em ciências biológicas pela PUC-SP. Especialização no ensino de biologia pela USP. Mestre em educação e saúde pela PUC – SP. Atualmente é doutoranda na Unifesp, seu projeto têm foco nas Metodologias Ativas de Aprendizagem, mais especificamente na Aprendizagem Baseada em Equipes – ABE (Team Based Learning). Em sua tese avaliou a eficácia do uso da ABE na educação básica e suas contribuições para a aprendizagem colaborativa e significativa dos alunos e autoeficácia docente.
7.Referências Bibliográficas
DESMOND, T.; DAVIDSON, R. J. Self–Compassion in Psychotherapy – Mindfulness–Based Practices for Healing and Transformation. 1. ed. [s.l.] W. W. Norton & Company, 2015.
FREDRICKSON, B. L.; JOINER, T. Reflections on Positive Emotions and Upward Spirals. Perspectives on Psychological Science, v. 13, n. 2, p. 194–199, 2018.
HANSON, R.; MENDIUS, R.; ALBERT, B. O cérebro de Buda : Neurociência prática da felicidade. [s.l.] Editora Alaúde, 2012.
KABAT-ZINN, J. Mindfulness-based interventions in context: past, present, and future. Clinical psychology: Science and practice, v. 10, n. 2, p. 144–156, 2003.
MILLER, A. H.; RAISON, C. L. Are Anti-inflammatory Therapies Viable Treatments for Psychiatric Disorders: Where the Rubber Meets the Road. JAMA psychiatry, v. 72, n. 6, p. 527–528, jun. 2015.
PIRES, J. G. et al. Instrumentos para avaliar o construto mindfulness: uma revisão. Avaliação Psicológica, v. 14, p. 329–338, 2015.
RICARD, M.; POLEGATO, I. A revolução do altruísmo. [s.l: s.n.].
Um comentário em “PROGRAMAS DE CULTURA DE PAZ – ESTRATÉGIAS PARA POTENCIALIZAR O APRENDIZADO DE CRIANÇAS E JOVENS.”