SER PROFESSOR: FONTE INESGOTÁVEL DE FELICIDADE

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Ser professor: fonte inesgotável de felicidade

Minha visão sobre a vida de professor pode parecer fantasiosa, surreal ou mesmo romântica. Sou professora há mais de trinta anos e pretendo continuar pelos próximos trinta, se o altíssimo me permitir. Fui escolhida para ser professora, não escolhi. Logo aos 14 anos, “o chamado” me ocorreu. Comecei dando aulas de inglês aos sábados e, aos 17 anos, já tinha minha própria escola. A transição de professora a “dona de escola” foi muito próspera, mas também traumática. O melhor do lado próspero era ter autonomia e dinheiro para gastar onde e como eu quisesse. Fiz aquilo que mais tinha vontade e apliquei meu primeiro “dinheiro grande” em algo que sonhava. Comprei um cavalo e me dei a oportunidade de montar sempre que quisesse. Confesso que os familiares e amigos acharam uma bobagem, afinal eu era uma jovem empresária de sucesso e podia ter um carro melhor, roupas de grife e seguir a linha “patricinha”. Teria sido muito mais conveniente do que passar as horas de lazer suando embaixo de sol, cheirando a cavalo e descabelada. Passado algum tempo, descobri o lado obscuro de se ter uma escola – temos que lucrar cada vez mais, ensinar cada vez menos, pois assim os alunos passam anos pagando pelo curso e, claro, dá mais lucro.

Foi aí que tive que tomar uma decisão drástica: ser conivente com as leis do mercado ou vender meu cavalo e voltar a dar aulas pelo prazer de ensinar, cada vez mais e melhor. Mas recebendo bem menos por isso. Vendi o cavalo, a escola e me mudei para Londres sem olhar pra trás. Foi a melhor decisão que tomei. Voltei a dar aulas assim que voltei para o Brasil e fiz um voto de nunca abandonar as aulas. Acrescentei ainda outras aulas além do inglês, como: filosofia, mitologia, meditação, religiões comparadas, entre outras.

Quando penso em todas as coisas boas que o ofício de ensinar trouxe para minha vida, não consigo achar defeitos. Eu poderia aproveitar a ocasião e falar dos problemas com a educação, sobre o desrespeito ou os salários insuficientes, mas isso os jornais e redes sociais já fazem. Isso não estimula ninguém a se tornar um professor e certamente não retrata completamente a vida de um professor. Há muito mais a ser mencionado e a melhor parte é deixada de lado como se fosse pouca coisa, como se a garantia de êxito e reconhecimento em outras profissões fossem certas e apenas uma questão de escolha profissional. Nada mais distante da realidade.

Todos precisam de professores. Sem bons professores não há possibilidade de mudança na sociedade. Educação é a única solução para muitos dos problemas que o mundo está enfrentando, e mesmo assim não estimulamos as pessoas que desejam se tornar professores. O comentário inicial certamente será: “Vai morrer de fome! Ser professor não dá dinheiro!”.
Fato não comprovado na minha vida: sempre mantive minha casa e família trabalhando como professora de inglês, nunca me faltou trabalho e nem motivação para continuar na profissão.

Quando os pais colocam seus filhos na escola pública ou particular, esperam encontrar bons professores, pessoas dedicadas e estudiosas, que estão ali para iniciar ou turbinar a inteligência de seus alunos.

Porém, nem sempre nos interessamos em saber quantas barreiras esses profissionais tiveram que superar para manterem-se na profissão e/ou vocação. Eles são apenas nomes que vêm e vão, sem muita importância.

No início de qualquer vida acadêmica não damos muita bola aos professores, até que um dia nos deparamos com um professor especial, inspirador, criativo, cativante… daqueles que você até passa a gostar da matéria quando ele ensina, ou fica horas depois pensando sobre o que falou em sala, alguém admirável. É aí que a magia acontece, há um poder de transformação que Deus coloca nas palavras de alguém que “professa”, ou seja, “fala aquilo que acredita”, e que torna alguns professores inesquecíveis.

A alegria de um professor nasce do aprendizado de seus alunos. O que nos motiva não é o nosso êxito apenas, não vivemos olhando para nosso umbigo, colocamos nossa felicidade em cada um dos estudantes que estamos orientando. A chance de sermos felizes é multiplicada pelo número de alunos que estamos trabalhando. Eles aprendem, nós nos alegramos. Simples assim, matemático. Assim é a vida de alguém que tem a vocação de ensinar.

Pense como teria sido nossa vida se não existissem professores, o quanto a vida não teria sido prejudicada, limitada, escura, se não fosse pela generosidade, dedicação e empenho de alguém em nos tirar da ignorância – das primeiras letras até o PhD.

Temos muito que agradecer e honrar os que escolhem essa vocação e mantêm-se firmes em nome de algo que está além da compensação financeira, ainda que seja muito bem-vinda e necessária. Eu diria que a fonte de felicidade que encontramos aos retirar o véu de alguém que aprende, é a maior compensação que há. O melhor que podemos desejar a todos na vida é que tenham bons professores. Às vezes não encontramos muitos, mas um bom professor pode salvar a vida de alguém, basta um.

Ser professor é uma honra, uma bênção e vocação. Foi muita sorte eu ter me descoberto tão cedo. Desde então, sou auto realizada e feliz. Tem coisa mais preciosa?

Gratidão aos meus professores!
Gratidão aos meus alunos!
Vocês são meus tesouros!

Regina Proença é professora, tradutora, mãe, amiga e aprendiz.

 

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