Zona de Conforto X Zona de Conflito
Passado algumas semanas do conflito entre Israel e Hamas sentimos que nossa energia para se indignar vai se esmorecendo. É incrível a capacidade que temos de normalizar até as situações mais cruéis e injustas. Foi assim com a Ucrânia (dois anos de guerra e nenhuma solução à vista), certamente será assim com esta guerra também. As potências envolvidas estão comemorando o aumento de sua influência nesses territórios e devem estar lucrando muito com a venda de armas e munições. Há um comércio nefasto acontecendo por trás dos números de mortos em ambos os lados. Não podemos ser ingênuos em achar que os líderes que acreditam na vingança ou retaliação sentarão na mesma mesa e buscarão a concórdia. Ninguém lucra com a paz. O único caminho viável é a movimentação de grupos independentes que se coloquem a favor das vítimas e busquem reduzir os conflitos com a ajuda humanitária e a desmoralização dos que advogam a guerra. A pressão popular pode ter algum peso pois como políticos que são, eles precisam estar aptos a concorrer nas próximas eleições sem que as mortes deixadas no caminho não venham a “atrapalhar” suas ambições políticas.
Isso não acontece na natureza, nos caso dos gorilas por exemplo, o líder do grupo não é o mais violento e forte, é aquele que consegue solucionar as disputas e manter a paz no grupo. Em nosso imaginário pensamos que o mais forte irá liderar mas como os animais costumam ser mais sábios que os humanos, o inverso é verdadeiro.
Meu coração fica pesado em ver as cenas de crianças, jovens e adultos sendo alvo de bombardeios indiscriminadamente. Apesar de guerras terem acontecido em vários momentos da humanidade, a capacidade de destruição sem a proximidade dos alvos, sem ao menos identificar se há a possibilidade de matar pessoas que não estão diretamente envolvidas nos conflitos é assustadora. Nos conflitos antigos as brigas eram “mano a mano”, uma batalha deixavam mortos e feridos dos dois lados, mas havia uma certa moralidade, um reconhecimento de que era necessário uma trégua para retirada dos corpos e cuidados dos feridos, as regras eram mais definidas e uma violação seria uma ofensa não só aos oponentes mas também às divindades.
Não consigo imaginar uma pessoa se dizer religioso e defender uma guerra, essa conversa de guerra “santa” ou povo “escolhido”, de bem contra o mal não me convence e nem me conforta. Perante a lei do Karma tanto faz de que lado do conflito você está, quem fere será ferido. Você atrai aquilo que pratica e nada vai aliviar o “seu” lado, tirar a vida de alguém é um pecado em qualquer religião que se preze. Já o perdão, a misericórdia e a compaixão são considerados atributos divinos e só aqueles que transcenderam sua necessidade de vingança podem manifestá-los.
Aqui deste lado do mundo, em nossa imensa zona de conforto, encontramos políticos que batem no peito e se acham no direito de defender o lado mais forte e poderoso do conflito. Não levam em consideração as vítimas e a longa história de injustiças e ocupações feitas ao longo dos anos. Só querem aparecer do lado dos “poderosos”, tentando tirar alguma vantagem desta exposição. Um teatro tenebroso e de mau gosto que só mostra o quanto são desprovidos das qualidades necessárias para liderar, como ser justo, equânime e ter bom senso. Uma lástima!
Sei de minha impotência em relação aos fatos, nada posso contribuir para que os conflitos e as mortes deixem de acontecer mas continuo firme em minhas orações para que Deus, que é Amor e Verdade, se manifeste e transforme os corações dos que fazem a guerra. Somente quando afirmarmos que a Paz é Santa e Sagrada seremos de fato um povo escolhido, querido e admirado pelos homens e deuses.
Em nome da paz e concórdia,
Regina Proença